“ Lamentamos mas não poderá enviar mais cartas para este
endereço. Assin: CTT “
“ As rosas foram devolvidas ao seu destinatário. Assin: CTT“
Estas mensagens nem são nada comparadas com o que vem a
seguir…
“ (…) Depois de uma longa pesquisa, concluímos que você é o
único amigo próximo da nossa paciente visto que não encontrámos mais familiares.
Ela tem uma grave crise mental, tendo reprovado nos testes de lucidez mental.
Concluímos com isto que a paciente está a sofrer de uma depressão mental grave
do qual precisará da ajuda de familiares para poder superar a sua doença. (…)
Assin: Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa. “
Se eu já estava de rastos, isto matou-me. Acordar e receber
isto tudo numa só manhã, é simplesmente demasiado para um ser humano com
sentimentos. Eu até queria ser positivo e dizer que pelo menos ela está em
Portugal. Mas como eu posso ser positivo quando eu recebo uma carta dos
correios de Portugal e da Policia a dizer que o prédio onde ela morava ardeu e
a única sobrevivente foi ela? Como posso eu ser positivo se um Hospital
Psiquiátrico me diz que ela está doente e precisa de ajuda de familiares e
amigos próximos? Como eu posso ser positivo se ela foi transportada de França para
Portugal, sabe-se lá em que condições? Pois não sei, mas eu tenho que arranjar
a maneira de o ser, se eu não o for, como poderá ser ela?
Escrevendo e contando desgraças num caderno e num banco
completamente desconfortável dentro de um comboio com talvez perto de 30
pessoas todas a olhar para mim porque tenho a cara quase toda coberta de
lágrimas nem é nem pode ser uma terça parte daquilo pelo que ela deve estar a
passar sozinha num hospital. Destas 30 pessoas, mais de metade chegou ao pé de
mim e me perguntou se tudo estava bem comigo. Eu respondi sempre isto: “
Obrigado pela preocupação mas o mal não está em mim” , todas as pessoas
compreenderam que eu estava bem e só necessitava de um momento a sós que ainda
não tive, tirando agora de noite que estou alojado aqui neste hotel tentando
completar aquilo que estava a escrever no comboio. Agora ponho-me no lugar da Sophia, tentando
esquecer todo o meu esforço para tentar estar ao pé dela. Imagino como ela
conseguiu sair de um prédio em chamas, sabendo que muito provavelmente ninguém
poderia sair de lá vivo. Imagino no que ela deverá estar a pensar e
questionar-se. “ Será que a culpa foi minha de tudo aquilo ter acontecido? Será
que podia ter feito algo mais para nada de aquilo ter acontecido? Será que
poderia ter salvo alguém? Será que foi minha culpa e fui eu que provoquei isto
tudo? “ Viver pensando nisto, não é fácil e por isso mesmo não me posso queixar
de nada. Em breve irei vê-la, não sei de todo o que esperar…
O que posso dizer é isto: O Hospital e uma série de estradas são o que separa eu e ela e não uma imensa quantidade de quilómetros do qual nunca poderia percorrer, como antes.
Alex, 12 de Agosto de 2014
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