domingo, 27 de novembro de 2016

CAPÍTULO 9- O Dilema presente



É difícil dizer se sou mais um ou se sou o um. A diferença entre de quem sou e do local onde estou para tudo o resto é abismal.
Ao princípio apaguei ao de leve o que escrevi acima, mas pensei melhor e rescrevi a frase. Pensei para mim em 1º lugar: “ Quem sou eu para escrever num caderno que não é meu?”, mas estando já escrito por mim, talvez seja melhor falar sobre mim.
Ou talvez não.
Agora falando a sério, isto sou eu. Sou a indecisão completa entre falar de mim e não falar, entre dizer quem sou ou não dizer, entre dar a conhecer quem fui e o que não fui. Retraio-me ao tentar descrever tudo, não só sobre o local onde escrevo agora mesmo como quem fui outrora. Sim o local interessa e sim também achava que não. É esquisito não é? Também pensava que sim, aliás de certa forma ainda penso. Esquisito não será mesmo não querendo falar de mim, continuar a falar? Apesar de tudo aquilo que aconteceu, volto a questionar-me dia sim e dia não acerca de coisas que não deveria sequer equacionar no meu dia a dia. Mas talvez eu seja assim mesmo, necessito de falar de mim quando ninguém fala sobre mim.
Talvez eu não seja senhor nem da sorte nem do azar e isso é um dilema.
Sem nome, 16 Novembro 2016

sábado, 19 de novembro de 2016

CAPÍTULO 8- Senhor da sorte ou do azar?



Tratarem-me por senhor, quem diria hein? No meio da imundice, do fogo, do metal, do sangue, da chuva ando eu, a vaguear como se essa fosse a minha profissão, como se fosse a minha lei.
Assim é a minha jornada diária, vaguei-o por tudo o que é caminho, pego no que me salta á vista pois posso sempre necessitar e neste caso preciso sempre. Neste caso que é o meu, o de sem abrigo. E não podia deixar de notar naquele brilho que me deixa cego vindo de uma valeta por onde passava. Afinal, desde quando é que uma valeta brilha? Era o sol que batia fortemente num pedaço de vidro que ali estava por cima de algo meio imperceptível, este caderno, ou melhor, este diário. No meio da minha imundice estico a mão e tiro do meio da valeta lamancenta o diário.
“ Mas que raio é isto?”- penso para mim e talvez por uma intuição divina, começo a lê-lo ( pelo menos do que se consegue ler ) e não posso deixar de reparar que este é o diário que a Inês tanto levava de um lado para o outro e onde ela me trata por “senhor”. Senhor? Eu? Por ser o sem abrigo que ela gostava tanto? Isto deixa-me confuso. Ainda hoje me pergunto que se eu tivesse trocado de lugar com ela naquele famoso e misterioso acidente de carro, se ela realmente chegava ao seu destino. Ela que realmente tinha um futuro pela frente, desvaneceu ali, desapareceu assim, do nada e eu do nada continuo aqui. O mais curioso de tudo, é que nada restou, tirando este cadernito. Cadernito do qual, eu, o vagabundo que nem sabe se deve revelar o seu nome ou não, continua a existir e do qual, quem sabe, voltará a ser escrito.
Por isto tudo, pergunto-me, serei senhor da sorte ou do azar?



Sem nome, 15 Novembro 2016

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