quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

CAPITULO 3 – Noticias desconfortáveis

“ Lamentamos mas não poderá enviar mais cartas para este endereço. Assin: CTT “
“ As rosas foram devolvidas ao seu destinatário. Assin: CTT“
Estas mensagens nem são nada comparadas com o que vem a seguir…
“ (…) Depois de uma longa pesquisa, concluímos que você é o único amigo próximo da nossa paciente visto que não encontrámos mais familiares. Ela tem uma grave crise mental, tendo reprovado nos testes de lucidez mental. Concluímos com isto que a paciente está a sofrer de uma depressão mental grave do qual precisará da ajuda de familiares para poder superar a sua doença. (…) Assin: Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa. “
Se eu já estava de rastos, isto matou-me. Acordar e receber isto tudo numa só manhã, é simplesmente demasiado para um ser humano com sentimentos. Eu até queria ser positivo e dizer que pelo menos ela está em Portugal. Mas como eu posso ser positivo quando eu recebo uma carta dos correios de Portugal e da Policia a dizer que o prédio onde ela morava ardeu e a única sobrevivente foi ela? Como posso eu ser positivo se um Hospital Psiquiátrico me diz que ela está doente e precisa de ajuda de familiares e amigos próximos? Como eu posso ser positivo se ela foi transportada de França para Portugal, sabe-se lá em que condições? Pois não sei, mas eu tenho que arranjar a maneira de o ser, se eu não o for, como poderá ser ela?
Escrevendo e contando desgraças num caderno e num banco completamente desconfortável dentro de um comboio com talvez perto de 30 pessoas todas a olhar para mim porque tenho a cara quase toda coberta de lágrimas nem é nem pode ser uma terça parte daquilo pelo que ela deve estar a passar sozinha num hospital. Destas 30 pessoas, mais de metade chegou ao pé de mim e me perguntou se tudo estava bem comigo. Eu respondi sempre isto: “ Obrigado pela preocupação mas o mal não está em mim” , todas as pessoas compreenderam que eu estava bem e só necessitava de um momento a sós que ainda não tive, tirando agora de noite que estou alojado aqui neste hotel tentando completar aquilo que estava a escrever no comboio.  Agora ponho-me no lugar da Sophia, tentando esquecer todo o meu esforço para tentar estar ao pé dela. Imagino como ela conseguiu sair de um prédio em chamas, sabendo que muito provavelmente ninguém poderia sair de lá vivo. Imagino no que ela deverá estar a pensar e questionar-se. “ Será que a culpa foi minha de tudo aquilo ter acontecido? Será que podia ter feito algo mais para nada de aquilo ter acontecido? Será que poderia ter salvo alguém? Será que foi minha culpa e fui eu que provoquei isto tudo? “ Viver pensando nisto, não é fácil e por isso mesmo não me posso queixar de nada. Em breve irei vê-la, não sei de todo o que esperar…

O que posso dizer é isto: O Hospital e uma série de estradas são o que separa eu e ela e não uma imensa quantidade de quilómetros do qual nunca poderia percorrer, como antes.
    
Alex, 12 de Agosto de 2014